Pochmann (IPEA), Pedro (Sindfisco), deputado Cláudio Puty e Clemente (Dieese) concordam com a CUT
Escrito por: Isaías Dalle e Leonardo Severo, de Brasília
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  A progressividade na cobrança dos impostos é o caminho da justiça  tributária, pois desta forma quem recebe mais paga mais, ao contrário do  que temos hoje, quando a taxação se faz sobre o consumo e não sobre o  patrimônio e a renda.
  Esta foi a conclusão da mesa “Desafios para uma Reforma Tributária no  Brasil”, realizada na tarde de hoje durante o Seminário Tributos e  Desenvolvimento: perspectivas para o trabalho e a distribuição de renda,  realizada pela CUT no Hotel Nacional, em Brasília. Coordenada pela  secretária Nacional da Mulher Trabalhadora, Rosane Silva, a mesa contou  com a participação de Márcio Pochmann, presidente do IPEA; Cláudio Puty,  deputado federal PT-PA; Pedro Delarue Tolentino, presidente do  Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal  (Sindifisco); Clemente Ganz Lúcio, coordenador do DIEESE e Nelson  Barbosa, secretário executivo do Ministério da Fazenda.
  O tamanho da injustiça tributária vigente impressiona e salta aos olhos  como denuncia o presidente do Sindfisco. “Em 2006, apenas 5.292  contribuintes fizeram declaração do imposto de renda declarando  rendimentos acima de R$ 1 milhão, enquanto 220 mil pessoas, naquela  mesma época, tinham aplicações no sistema financeiro superiores a um  milhão de dólares. Isso é resultado do fato de que a distribuição de  lucros e dividendos das empresas para seus proprietários e acionistas  desde 1995, por decisão do governo FHC, passou a ser isenta de imposto  de renda. Infelizmente, é muito comum que um empresário que ganhe  milhões de reais por ano não pague um centavo de Imposto de Renda. Isso  demonstra o quão necessário – e urgente – se faz reorientar a  tributação, para que ela incida prioritariamente sobre o patrimônio e a  renda”.
  Tal manobra, a de isentar lucros e dividendos, cria a falsa separação  entre a empresa (pessoa jurídica) e seus proprietários e acionistas  (pessoas físicas), livra as últimas de pagamento sobre os lucros. Pedro  Delarue também alertou que a tributação paga pelas pessoas jurídicas é  repassada aos preços. Ou seja, “grande empresário não paga imposto”.
  Marcio Pochmann, ao negar que a carga tributária brasileira seja grande  demais, aproveitou para lançar uma provocação. Ele diz que a carga  tributária bruta (arrecadação de impostos dividida pelo PIB) não serve  como parâmetro ideal para avaliar a justiça da estrutura de impostos.  Ele diz que a carga tributária líquida (arrecadação dividida pelo PIB  menos o percentual usado para pagamento do serviço da dívida) mostra que  o dinheiro dos impostos usados para funções típicas de Estado, tais  como educação e saúde, ficam apenas 15% do PIB.
  “A quem serviu o aumento da capacidade de arrecadação, causada pelo  crescimento econômico, durante estes anos?”, desafiou o presidente do  Ipea. Esses 15% do PIB hoje reservados para as funções típicas de Estado  permanecem no mesmo patamar de duas décadas atrás, segundo pesquisa  feita por Pochmann.
  Presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, o deputado  federal Cláudio Puty lembrou o historiador Caio Prado Júnior, para quem a  consolidação da justiça no país exige, além da reforma agrária, a  reforma tributária. Destacando o protagonismo da CUT na direção dos  movimentos sociais brasileiros, Puty defendeu a necessidade de  mobilização popular por maior justiça tributária a partir de novas  alíquotas no Imposto de Renda e na taxação de grandes fortunas.
  Puty alertou também para o perigo embutido no discurso da desoneração  da folha de pagamentos. Em primeiro lugar, ele afirmou que a folha não é  das mais caras do mundo, como costumam dizer os empresários. Os  encargos trabalhistas correspondem a 25% da folha, e não mais de 100%  como dizem analistas e comentaristas, reproduzidos pelo senso comum. “O  que passa disso são direitos do trabalhador, não encargos”.
  O desafio do movimento sindical, destacou o parlamentar, é garantir que  as receitas da Previdência sejam mantidas de qualquer maneira, sob pena  de, após um processo de desoneração da folha, o financiamento do  sistema caia e, lá na frente, se proponha redução de direitos para  cobrir “déficits”.
  Clemente Ganz Lúcio, coordenador técnico do Dieese, admitindo que o  tema da reforma tributária tem muitas chances de seguir adiante e que   mudanças sejam implementadas, em virtude do cenário econômico e político  favorável, disse que é preciso “uma intervenção pesada do movimento  sindical para dar às mudanças um caráter redistributivo de renda. E a  CUT, com essa iniciativa de debater a reforma, joga luz sobre o tema”.
  Falando como representante do governo Dilma, Nelson Barbosa apontou  aquilo que chamou de eixos da proposta do governo federal: incentivo às  micro, pequenas e médias empresas, como forma de tirá-las da  informalidade; unificação do ICMS, que é um tributo eminentemente  estadual, está na raiz da guerra fiscal e que enfrenta resistência dos  governadores; alterar o sistema de acumulação de crédito tributário para  empresas exportadoras e aquelas que realizam investimentos. Citou, como  uma das modificações já realizadas, a redução de 4 anos para 12 meses  no processo de devolução do crédito para as empresas; desoneração da  folha de pagamento; progressividade. Segundo ele, este eixo só foi  incluído entre as prioridades do governo Dilma após a presidenta ter se  reunido com a CUT e as centrais.
  Nelson Barbosa foi duramente criticado por diferentes dirigentes no tocante à proposta de desoneração da folha.
 

 
 
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