quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"UNIR A OPOSIÇÃO": QUANDO ALIANÇA COM A DIREITA TEM OUTRO NOME


A felicidade de Efraim e a simpatia do Mago. Eles dois se merecem?
Foto de Haceldama Borba retirada do Blog do Clilson

O argumento do prefeito Ricardo Coutinho, que tenta justificar sua aliança com o DEM (ex-UDN, ex-ARENA, ex-PDS, ex-PFL), buscando estabelecer um sinal de igualdade entre as alianças estaduais ou nacionais e as alianças que os partidos fazem nas pequenas cidades do interior da Paraíba, com suas particularíssimas especificidades políticas, é uma maneira de reduzir e empobrecer mais ainda o debate sobre o sentido da política e das alianças partidárias.
Coutinho, ao que parece, entrou no perigoso terreno viscoso do vale tudo retórico, onde o embate de idéias se converte em mero jogo de palavras, e onde a busca de convencer com a solidez do argumento se desfaz num sofrível palavreado que tem clara intenção diversionista. A finalidade é uma só: desviar a atenção do cidadão comum com informações e dados aparentemente coerentes para apresentar uma tese com ares de axioma, mas cujo resultado pretende evitar o debate de fundo sobre as motivações para mudança tão abrupta no comportamento político do atual Prefeito de João Pessoa.
Quando Coutinho argumenta que a atual aliança do PSB com o DEM na Paraíba se justifica porque, em várias cidades do interior uma diversidade de partidos se uniu numa diversidade de alianças, ele está propondo que a lógica estadual e nacional se inverta, para ser ajustada à lógica paroquialista, localista, onde os embates estabelecidos se desenvolvem exclusivamente ao sabor de contingências locais e, em muitos casos, as diferenças e opções partidárias não tem qualquer relação com posturas programáticas. Mais ainda, que o debate a respeito da natureza e dos projetos antagônicos dos partidos se ajustem aos projetos pessoais e as conveniências de cada um.
Por que essa aliança feita com do PSB com o DEM é impossível nacionalmente? E por que o PT, a priori, rejeita tão enfaticamente esse ajuntamento com PSDB e DEM? Porque, nesse âmbito, discutem-se modelos de país e se confrontam projetos de hegemonia, ou será que Coutinho concordaria em estabelecer um sinal de igualdade entre o governo de FHC e Lula?
O PSDB e o Dem não são meros adversários contingenciais, são adversários históricos. Eles representam a trajetória de um embate que não começou agora, nem há 20 anos. Nos termos de hoje, esse embate começou desde que Getúlio Vargas iniciou seu segundo governo e começou a confrontar os interesses do capital estrangeiro e das classes a ele associadas; ele se reforçou na campanha pelas Reformas de Base, no governo Jango, e se cristalizou no Golpe Militar de 1964, se prolongando nos 20 anos que se seguiram, quando o Brasil foi dividido entre os que o amavam e os que deveriam deixá-lo – muitos à força, assassinados que foram pela tortura nos porões da ditadura.
Diante do que disse o alcaide sobre sua aliança com o Dem (“aliança se faz entre os diferentes”, mais uma dessas obviedades inúteis que ultimamente povoam a política paraibana), foi impossível impedir a sensação de túnel do tempo, acompanhado de um desejo incontrolável de rir que só quem militou na esquerda nos anos 80, e no movimento estudantil, em particular, sabe do que eu estou falando. O que gente como Ricardo Coutinho falava a respeito de alianças naqueles anos, inclusive a que foi feita para derrotar a ditadura, destoa de tal maneira com o que ele defende hoje, mas é, ao mesmo tempo, tão coerente, que pode representar um giro de 360 graus. O tempo talvez seja mesmo o senhor da razão, mas nesse caso ele exagerou.
Ricardo Coutinho, com sua propensão ao comportamento de autolouvação, que marcou muitos petistas desde esses tempos, parece acreditar que existe sobre si um manto da idolatria que o torna impermeável à crítica e, ao mesmo tempo, torna todas as suas atitudes justificáveis em si mesmas. Não são. E o motivo é que Ricardo Coutinho representa algo mais do que ele pensa sobre si mesmo ou sobre sua visão messiânica de se colocar acima dos partidos e dos grupos que o apóiam. Ele representa (ou representou) uma tradição, um esforço conjunto de pessoas e gerações que tornou possível que alguém como ele, de classe média e, portanto, sem posses ou prestígio social para tornar possível sua ascensão política, a não ser pelo esforço pessoal e dedicação a uma causa – e foi por isso que tantos se juntaram a ele nessa empreitada, arrebatados por um projeto maior, – galgasse a posição de liderança incontestável na política paraibana que ele tem hoje.
Por isso, "Unir a oposição", como ele chama a aliança do PSB com o DEM e o PSDB, é um eufemismo para justificar a ausência de debate sobre o conteúdo dessa aliança que Coutinho deseja realizar para 2010, e reduzir ao mínimo as diferenças – se é que elas existem mesmo – não apenas ideológicas e políticas, mas programáticas: que projeto Ricardo Coutinho vai apresentar que possa ter a concordância de Efraim Morais? No final das contas, ou tudo será considerado tinta no papel que, como sempre, aceita tudo, ou eles sempre falaram a mesma língua, só que em tom e em termos diferentes. Vamos ver