quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A oposição e o atalho para a insignificância

Espernear é legítimo. Mas, inferiorizada numericamente e abalada por graves conflitos internos, a oposição não irá muito longe se não passar disso”

Sylvio Costa, Congresso em Foco

O Senado deverá ser o cenário hoje de algo parecido com o que aconteceu na Câmara na semana passada: uma arrasadora vitória do governo na votação do salário mínimo, sacramentando o valor de R$ 545, desejado pelo Palácio do Planalto, e a regra de reajustes automáticos correspondentes à correção anual pela inflação mais a taxa de crescimento da economia registrada dois anos antes.

Primeiro tema de grande impacto enfrentado pelo novo Congresso, o aumento do salário mínimo deixou algumas lições óbvias e outras nem tanto. As óbvias: a franca maioria governista, favorecida pelos resultados eleitorais de 2010 e pela eficaz tática de deixar em suspenso nomeações para o segundo escalão ansiosamente aguardadas pelos aliados; a elevada taxa de lealdade demonstrada pela heterogênea base parlamentar de Dilma; e a imensa cara de pau com que os governistas de hoje fazem o discurso dos oposicionistas de ontem, e vice-versa.

Menos óbvias foram a esperteza do governo de enfiar no projeto de lei a possibilidade de definir por decreto o valor do salário mínimo nos próximos anos, evitando assim um debate legislativo sempre desgastante, e, sobretudo, certas peculiaridades do comportamento da oposição.

A principal bancada oposicionista, pertencente ao PSDB, tratou o episódio como uma espécie de dívida de campanha. Defender o mínimo de R$ 600 significava honrar a promessa feita na disputa presidencial pelo tucano José Serra. “Fiz a campanha eleitoral defendendo isso, não seria coerente que eu mudasse agora”, diz a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), que apoiou Serra e atua com independência em seu partido. Eleita ano passado para o seu primeiro mandato eletivo, ela votará hoje a favor do aumento do piso nacional para R$ 600.

Não seria mesmo trivial esquecer o compromisso eleitoral, por mais restrições fiscais (impacto na Previdência, nas prefeituras etc.) ou econômicas (efeitos sobre a inflação e as expectativas dos investidores) que possam ser invocadas contra ele. Mas o fato é que o PSDB afastou-se assim de uma posição mais realista, como os R$ 560 defendidos pelas centrais sindicais, pelo DEM, pelo PV e pelo PPS. Optou por marcar posição, por espernear.”
Artigo Completo, ::Aqui::

Nenhum comentário: