“Nunca antes neste país…”
Poderia ser o Lula falando do Brasil.
Mas poderia também ser Evo Morales falando da Bolívia. Ou Álvaro García Linera, sociólogo, matemático e vice-presidente boliviano.
Na Bolívia acontecem coisas que o mundo não vê porque não olha para lá. Ou olha com preconceito, até com raiva, pelo fato de um índio – o primeiro a governar aquele país em que a grande maioria da população é indígena – ter chegado ao poder e ousar fazer coisas que os governantes de origem europeia nunca fizeram.
Desde 2006, quando Evo Morales tomou posse, a Bolívia passa por um impressionante e revolucionário processo de transformação, com o povo – especialmente os índios que sempre foram tratados como não cidadãos, praticamente não tinham direitos – sendo beneficiado e assumindo uma autoestima nunca vista.
As minas, entregues ao capital internacional (a mando do FMI) por Victor Paz Estenssoro – o que quebrou a espinha do movimento operário – estão sendo recuperadas, os acordos internacionais estão sendo revistos, com muito ganho para o país, e esse ganho vai para projetos sociais e econômicos eficientes, a cultura dos povos andinos torna-se cada vez mais presente nas cerimônias, festas e atividades políticas de aimaras, quéchuas e outras etnias.
Uma minoria de origem europeia, que não se conforma em ter perdido o poder e tenta até separar a parte do país em que dominam, o leste que hoje é a parte mais rica da Bolívia, mas não tem força, perdeu o bonde da história. A tomada do poder pelos índios, a julgar pela participação indígena nas decisões, parece irreversível.
Mas tudo isso não aconteceu de um dia para o outro. A luta é “antiga”.
O livro A potência plebéia – ação coletiva e identidades indígenas, operárias e populares na Bolívia, de Álvaro García Linera, que acaba de ser lançado pela Boitempo Editorial, faz uma análise política (com visão marxista) e histórica de todo o processo. Fiquei impressionado. Recomendo.
A potência plebeia - Ação coletiva e identidades indígenas, operárias e populares na Bolívia
Autor: Álvaro García Linera
Prefácio: Pablo Stefanoni
Tradução: Mouzar Benedito e Igor Ojeda
Páginas: 352
Ano de publicação: 2010
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