Luis Nassif 
A súbita paixão de alguns jornais e comentaristas pela presidenta  Dilma Rousseff chama atenção para um modo peculiar de trabalhar  reputação de personalidades públicas por parte da mídia. A Dilma de  agora é a mesma Dilma Ministra-Chefe da Casa Civil, a mesma candidata à  presidência da República. 
Até então, era tratada como "assassina", "poste", paradoxalmente como  "autoritária", "terrorista", "assaltante de bancos". De repente,  torna-se a Margareth Tatcher brasileira, a dama de ferro, a grande  gestora.
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O que teria provocado essa reviravolta? O fato de ter  uma atuação discreta como presidente, de falar pouco não conta: como  Ministra-Chefe da Casa Civil, era esse seu comportamento. O fato de ter imprimido um estilo gerencial ao seu governo, definindo  claramente atribuições, funções e metas, também não vale: foram essas  virtudes que lhe valeram a indicação para candidata de Lula à sua  sucessão.
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O fato novo é que acabaram as eleições.  E aí dá-se um nó na cabeça dos leitores.
Muitos deles romperam com amigos, brigaram com conhecidos, xingaram  desafetos que ousavam afirmar que Dilma é... aquilo que os jornais da  época diziam que ela não era e que agora dizem que é.
Durante as eleições, em muitos ambientes o mero fato de alguém se pronunciar eleitor de Dilma gerava represálias pesadas
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À medida que a discussão política vai se civilizando, é possível que  uma nova era se instale no país. Nos próximos anos, há uma agenda  fundamental. É em torno dela que governo e oposição deverão medir  forças.
A oposição está à frente em estados relevantes, como São Paulo, Minas  e Paraná. O PT, em outros estados, como Bahia e Rio Grande do Sul. Há  governadores não-alinhados em Pernambuco, Ceará, Santa Catarina. E uma  enorme agenda pela frente, para saber quem terá maior capacidade de  cumpri-la.
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Há uma agenda social, exigindo investimentos em educação, saúde e  segurança. Não se aceita mais a passividade ante a miséria e a pobreza.
A nova era política consagrará os negociadores, aqueles políticos capazes de agregar, não os carbonários individualistas.
Cada governador de Estado terá que montar interlocução com todas as  forças sociais, não apenas com grandes empresários e sindicatos, mas com  ONGs, movimentos sociais, funcionalismo público, pequenos e micro  empresários.
Cada vez mais haverá exigências de transparências nas ações públicas e  de eficácia na gestão. Ter programas modernos de gestão e qualidade não  será mais apenas uma ferramenta de marketing, mas um instrumento de  sobrevivência política.
A Internet trouxe uma nova militância que terá que ser melhor  aproveitada pelos partidos. Não se pode ficar no modelo de montar redes  de difamação, como foi feita.
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A rede permitirá mesmo a partidos até agora sem quadros, como o PSDB e  o DEM, mobilizar uma nova militância, interessada, atuante. Basta  apenas entregar suas redes a pessoas comprometidas com conteúdo  programático, com a discussão de ideias.
Enfim, há um novo mundo pela frente em que, espero, toda radicalização seja deixada de lado. 
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