O plantio de informações favoráveis a sua candidatura por parte de Serra em colunas tradicionais de jornais brasileiros é desnudada no diálogo entre os profissionais e o cônsul norte-americano no Rio. Em um dos contatos de um jornalista com o consulado, em janeiro de 2010, o colunista revela que almoçou com Serra e que o candidato disse que Marina Silva (PV) seria sua “companheira de chapa dos sonhos”. Os motivos, de acordo com o que teria dito o tucano, seriam agregar apoio de parte do eleitorado de esquerda, ganhar a simpatia dos pobres e descolar sua imagem da do governo de Fernando Henrique Cardoso.
São exatamente os mesmos argumentos que o colunista publicou a título de análise pessoal em seu espaço em uma revista semanal de grande circulação, na mesma época: o texto foi ditado por Serra, em clara exaltação à possibilidade de que uma “chapa cabocla” fosse capaz de bater o PT nas urnas.
Cabe lembrar que, à época, ainda articulava-se muito fortemente sobre a possibilidade de que o então governador de Minas Gerais e hoje senador Aécio Neves (PSDB) viesse a compor uma “chapa pura” com Serra. O tucano paulista, confiante por estar à frente nas pesquisas de intenção de voto, começou ali a boicotar o colega de sigla –mais carismático e menos centralizador, que ameaçava a posição de Serra como líder do PSDB.
A essência do tipo de política que Serra pratica está nesse trecho de correspondência da diplomacia norte-americana: manipulação de informações por meio de aliados no seio da grande imprensa, maquinações contra aliados e, principalmente, um discurso enganoso para o eleitorado. Afinal, quantas vezes ele protestou quando era acusado de estar tentando esconder a “herança maldita” do governo FHC, do qual foi um dos principais expoentes? Pois disse, ao colunista, que queria Marina como vice; ex-ministra do governo Lula, ela permitiria que ele não fosse identificado como aliado do ex-presidente tucano, mas, sim, um defensor da continuidade do governo petista –o que nunca foi.
A promiscuidade das relações entre Serra, seu partido e parte da grande imprensa é um acinte contra a liberdade de escolha do cidadão, porque o induz ao erro tanto na hora do voto quanto na avaliação do trabalho do governo, a partir do que é publicado nos veículos que abrem mão de critérios éticos de apuração para publicar seus “ditados”.
Temos ciência dessas informações, hoje, graças à internet: em primeiro lugar ao Wikileaks, que vêm prestando relevante serviço público ao divulgar informações confidenciais da diplomacia norte-americana, e em seguida à rede de blogs que trabalha para esfacelar o discurso único, imprimindo pluralidade à comunicação de massas no Brasil.
Nas eleições, quando a central de boatos da oposição estava a mil para atingir Dilma Rousseff com calúnias de toda natureza, foram esses corajosos produtores de informação que desfizeram a trama de mentiras. Agora, consolidados como alternativa para a obtenção de informações, seguem contribuindo para que as práticas mais arcaicas e antiéticas da política brasileira sejam escancaradas ao público e percam a efetividade.
*José Dirceu, 64, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
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