Pelo que parece, a “grande imprensa” vai passar quatro anos a se  remoer. Achava que a presidenta seria cópia piorada de Lula. Dá-se o  caso que, neste início de governo, ela surpreendeu a mídia. Exatamente  no que menos
se esperava: está fazendo, desde o primeiro momento, o governo dela
se esperava: está fazendo, desde o primeiro momento, o governo dela
É engraçado ler nossa “grande imprensa” nos dias que passam. Seus  colunistas e comentaristas vivem momentos difíceis, dos quais tentam  escapar com saídas cômicas.
A raiz de seus problemas é que não sabem como lidar com Dilma  Rousseff. Talvez achassem que seu governo seria óbvio. Que ela seria uma  personagem que conseguiriam explicar com meia dúzia de ideias prontas.
Imaginavam, talvez, que o compromisso que ela assumiu com a  continuidade do trabalho de Lula faria com que ficasse de mãos atadas.  E, quando ela confirmou vários ministros e auxiliares do ex-presidente  na sua equipe, devem ter tido certeza de que suas expectativas se  confirmariam.
Achavam que Dilma seria uma cópia carbono de Lula. Piorada,  naturalmente, pois sem sua facilidade de comunicação e carisma. Estava  pronta a interpretação do novo governo: na melhor das hipóteses, uma  repetição sem brilho das coisas que conhecíamos. Para quem, como nossos  bravos homens e mulheres da “grande imprensa”, achou que o governo Lula  havia sido uma tragédia, o de Dilma seria uma farsa. Como dizia o velho  Karl Marx, quando a história se repete, é isso que acontece.
Dá-se o caso que, neste início de governo, Dilma os surpreendeu.  Exatamente naquilo que menos esperavam: está fazendo, desde o primeiro  momento, o governo dela.
Não há sinal mais evidente que a mudança que experimentou a parcela  do ministério que manteve. Ficaram parecidos com os novos. São ministros  dela e não ex-ministros de Lula.
Na verdade, esse é apenas um sintoma de que, em pouco mais de um mês,  o governo Lula virou passado. Algo que era difícil antever aí está. Em  grande parte, porque Dilma ocupou seu lugar, deixando claro que não é  igual ao antecessor.
A “grande imprensa” brasileira estava preparada para essa hipótese, mesmo que a achasse improvável. Era o cenário da crise entre criador e criatura, tão frequente na política, que vem na hora em que o “poste” se rebela contra quem lhe deu vida. Não era pequena a torcida em favor desse desfecho: Dilma desentendendo-se com Lula, este aborrecido, ela enciumada, ele se sentindo traído, ela sozinha no Planalto.
A “grande imprensa” brasileira estava preparada para essa hipótese, mesmo que a achasse improvável. Era o cenário da crise entre criador e criatura, tão frequente na política, que vem na hora em que o “poste” se rebela contra quem lhe deu vida. Não era pequena a torcida em favor desse desfecho: Dilma desentendendo-se com Lula, este aborrecido, ela enciumada, ele se sentindo traído, ela sozinha no Planalto.
Não é isso o que está ocorrendo. Lula não parece achar errado que  Dilma tenha se sentado na cadeira que ele ocupou por oito anos e  começado a governar desde o primeiro dia.
A frustração de perceber que quase nada do que imaginava está se  verificando tem levado a “grande imprensa” a atitudes patéticas. Não há  maior que a recusa em aceitar a decisão de Dilma de ser tratada como  presidenta.
A insistência dos “grandes veículos” em só designá-la como presidente  é pueril. Na língua portuguesa, as duas palavras existem, o que faz com  que qualquer uma possa ser empregada. Se Dilma escolheu uma, que  argumento justificaria negar-lhe o direito de usá-la?
É provável que os historiadores do futuro achem graça da implicância  de nossos “grandes jornais”. Seu consolo acabou sendo pequeno: o que  lhes resta é pirraçar, bater pé e chamá-la “presidente”.  Um dia, quem  sabe, farão como os jornalões argentinos, que acabaram respeitando a  mesma opção de Cristina Kirchner (os jornais chilenos, mais educados,  nunca recusaram a prerrogativa a Michelle Bachelet).
Nesta semana, nossos vibrantes “grandes jornais” passaram a achar  ruim que Dilma houvesse feito uma foto colorida para acrescentar à  galeria dos presidentes da República. Queriam que fosse em branco e  preto, talvez por picuinha. Sugeriram que ela quer “aparecer demais”.
E assim vamos. Pelo que parece, a “grande imprensa” vai passar quatro anos se remoendo.
Marcos Coimbra - CartaCapital 
 
 
 
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