O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em Lisboa que é   favorável ao envio de um relator da ONU para investigar a condição dos   direitos humanos no Irã. – Eu sou favorável a que tenha um relator.   Acho que foi correto o voto do  Brasil. Tem que ter um relator que vá ao  Irã investigar. O relator não é  obrigado a concordar com as acusações  feitas por outros países, mas  você não pode impedir que vá alguém  investigar se há ou não atrocidades  contra os direitos humanos, disse o  ex-presidente em entrevista à BBC  Brasil e ao jornal Valor Econômico, em Portugal.
Na última quinta-feira, o Brasil votou no Conselho de Direitos  Humanos  da ONU a favor da nomeação de um relator para investigar a  situação dos  direitos humanos no Irã. O gesto foi considerado uma  mudança na postura  do Brasil em relação às frequentes abstenções no  governo Lula.
Em Lisboa, Lula vai recebeu o Prêmio Norte-Sul, do Conselho da   Europa, e se tornará doutor honoris causa pela  Universidade de Coimbra.  Questionado sobre o que o Brasil pode fazer para  ajudar Portugal, que  tem sofrido instabilidades políticas e econômicas,  Lula afirmou.
– Isso é uma coisa que a presidenta Dilma vai discutir com o  presidente  Cavaco Silva e com o primeiro-ministro (José) Sócrates. Eu,   particularmente, acho que a retomada das relações entre Brasil e   Portugal, o trabalho conjunto que nós possamos fazer com os países   africanos, os investimentos das empresas brasileiras em Portugal, até   para que a gente possa entrar nos mercados europeus, é muito importante.   Acho que este é um momento muito importante para fortalecer as  relações  entre Brasil e Portugal.
Lula atribuiu a crise econômica na Europa à crença de que o mercado   poderia resolver todos os problemas. – É preciso rever o desenvolvimento   da Europa, sem que as pessoas abram mão das conquistas sociais que   adquiriram nos últimos 40 anos, afirmou.
Sobre as revoltas no Oriente Médio e no norte da África, disse que as   transformações vêm sendo provocadas pela juventude: – É uma sede de   democracia que bateu na juventude. O que aconteceu com a juventude é que   eles queriam dignidade, queriam ter esperança outra vez. Eu acho que a   democracia é isto, você permitir que as pessoas participem das  decisões,  que as pessoas tenham alternância de poder. Isto resulta num  benefício  importante para o mundo e para o Oriente Médio.
A respeito da ameaça de volta da inflação no Brasil, o ex-presidente   afirmou que o país vive uma situação melhor do que os outros países.
– Acho que se tem um país que não tem problemas é o Brasil. O Brasil   continua crescendo, a inflação está controlada e vai ser controlada,  não  há nenhuma perspectiva de a inflação voltar. Eu tenho lido e ouvido   pronunciamentos da presidenta Dilma de que ela fará todo o esforço   possível para não permitir a volta da inflação, porque ela sabe que a   volta da inflação significa prejuízo aos trabalhadores que vivem de   salário.
Lula explicou por que não foi ao jantar com o presidente dos Estados   Unidos, Barack Obama, em que estiveram os outros ex-presidentes,  durante  a visita do americano ao Brasil.
– Foi por uma razão muito simples. Fazia apenas dois meses e meio que  eu  tinha deixado a Presidência.  Eu acho importante que o Fernando  Henrique  Cardoso tenha ido, que o Collor tenha ido, que o Itamar tenha  ido, que  tenha ido o Sarney como presidente do Senado. Agora eu, fazia  apenas  dois meses e meio que tinha saído da Presidência da República.  Eu não  poderia voltar ao Itamaraty, tinha que deixar passar um tempo.  Senão  seria eu competindo com a nossa presidenta.
Lula negou que tenha divergências com a presidente Dilma. – Não há   hipótese de haver divergência. Porque quando houver divergência, ela   está certa. Para o ex-presidente, a visita de Obama ficou abaixo das  expectativas.
– Eu esperava que ele anunciasse algumas coisas mais importantes, por   exemplo que o Brasil deveria entrar no Conselho de Segurança da ONU,  que  ele reconhecesse e cumprisse a decisão da OMC (Organização Mundial  do  Comércio) em relação à questão do algodão, que ele diminuísse a  taxação  do etanol e mais ainda que ele retomasse as negociações da  rodada de  Doha, porque a rodada de Doha parou por causa das eleições  nos Estados  Unidos e na eleição da Índia. Porque somente o comércio é  que vai criar  condições para a melhoria da vida dos países mais pobres.
Sobre seus planos para o futuro, ele disse que nas próximas semanas  vai  fazer conferências em vários países e, depois, retomará a  militância no  Brasil.
– A partir da segunda quinzena de abril eu vou fazer uma agenda mais  forte  dentro do Brasil. Quero ajudar a fortalecer o PT, quero ajudar a   fortalecer o movimento social, quero manter contato com o movimento   sindical. Vou voltar à porta de fábrica em São Bernardo do Campo, porque   eu apenas deixei de ser presidente da República, mas eu jamais serei  um  ex-militante político, um ex-militante sindical, um ex-militante   social. Está na minha vida fazer isso e eu vou continuar fazendo porque é   uma coisa que eu gosto e que eu preciso.
Correio do Brasil 

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