Foi pouco divulgado, mas já foi feita a primeira pesquisa sobre a  popularidade da presidenta Dilma Rousseff, após os primeiros 45 dias de mandato.  Foram feitas mil entrevistas pelo Instituto Análise, do sociólogo Carlos Alberto  de Almeida, autor de “A Cabeça do Eleitor”, que versa, inclusive, sobre o efeito  das pesquisas de opinião sobre a vontade do eleitorado.
Dilma aparece, nessa pesquisa, com 50% de bom e ótimo. Esse índice supera os  índices de aprovação do ex-presidente Lula no limiar tanto do primeiro mandato  (2003) quanto do segundo (2007), apesar de os índices daqueles anos, com os  quais está sendo feita a comparação, serem de outro instituto, o Datafolha.
Contudo, a comparação é útil para se ter uma base para avaliar o patamar de  aprovação da presidenta neste momento, após os primeiros movimentos de seu  governo. Essa comparação deixa ver situação mais confortável de Dilma.
Em 2003 – melhor base de comparação, pois Lula ainda era uma incógnita –, o  ex-presidente detinha 43% de aprovação pessoal, segundo o Datafolha; em 2007,  após uma eleição difícil por conta do remanescente escândalo do mensalão,  paradoxalmente Lula teve maior aprovação, de 48%. Aqui, salta aos olhos um  fenômeno que se consolidaria nos anos seguintes.
A guerra que a mídia declarou a Lula durante seus oito anos, diferentemente  do que se poderia imaginar não conseguiu impedir que, entre abril de 2003 e  dezembro de 2010, sua aprovação pessoal praticamente dobrasse, chegando a 83% no  último ano de seu governo.
Contudo, os índices mais altos de Lula foram auferidos a partir do segundo  mandato. O ex-presidente chegou a dezembro de 2006, logo após derrotar Geraldo  Alckmin, com 52% de aprovação, que caiu a 48% mais ou menos nesta época, há  quatro anos, em março de 2007.
A série  histórica do Datafolha revela que a guerra midiática contra Lula  começou já em fevereiro de 2004, com o escândalo Waldomiro  Diniz, o que fez com que a aprovação do ex-presidente caísse dos  43% do início de seu governo para 38%. Os índices iguais ou inferiores a  50%  persistiram por todo o primeiro mandato.
A partir de 2007, apesar de a artilharia midiática contra Lula ter aumentado,  os resultados na economia certamente respondem por boa parte de sua  popularidade. O Brasil, em 2002, era a 14ª economia do mundo; hoje, os jornais  informam que já é a 7ª. Contudo, tais resultados não explicam totalmente a  disparada da aprovação pessoal de Lula.
Duas premissas sobre a melhora do bem-estar social foram bombardeadas  incessantemente pela mídia, a de que a melhora da economia se devia a Fernando  Henrique Cardoso e a de que tal melhora se devia à conjuntura internacional  favorável. Enquanto isso, a mídia foi tentando construir, entre a opinião  pública, uma imagem de corrupto para o governo Lula.
É perfeitamente plausível afirmar, portanto, que a quase totalidade dos  brasileiros descreu dos meios de comunicação e dos partidos de oposição,  sobretudo do ex-governador José Serra, que liderou a ofensiva conservadora no  Brasil durante a década passada.
Neste mês de março, devem começar a surgir pesquisas de opinião dos grandes  institutos. Apesar de ter sido indicada por Lula e de ter chegado ao poder  graças a ele, Dilma certamente ainda terá que construir seus índices de  popularidade, o que explica a relação que está construindo com os algozes de seu  antecessor.
Ano de ressaca após a fuzarca econômica de 2010, que gerou um “pibão” de  7,5%, 2011 certamente produzirá um “feel god factor” decrescente, não só pelo  aumento do salário mínimo abaixo da inflação como pela política monetária que  vai se tornando progressivamente restritiva.
Fica fácil entender, portanto, que a continuidade da guerra midiática teria  efeitos imprevisíveis sobre a sustentação do novo governo. Lula, porém, ao  enfrentar essa questão, ingeriu uma espécie de antídoto contra a mídia que  impediu que seus ataques fizessem efeito mesmo durante a crise de 2008/2009,  quando o bem-estar social reduziu-se perceptivelmente.
A estratégia de coexistência pacífica com a mídia é mais confortável do que a  de enfrentamento dela por Lula. Resta saber se pode ser sustentada até que a  sensação de bem-estar se recupere, pois a economia pode pesar mais para a  sociedade do que o que a mídia disser sobre o governo, ainda que em direção  contrária.

Nenhum comentário:
Postar um comentário