terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Frei Gilvander: as lutas e conquistas do MST em Minas Gerais em 2011


Cerca de 700 sem terra estão acampados em frente à Assembleia Legislativa de Minas Gerais


Por Frei Gilvander

Dia 8 de janeiro de 2012, no Acampamento Novo Cruzeiro, em Jequitaí, no Norte de Minas, aconteceu a celebração-festa de várias conquistas do MST em Minas em 2011.
Como 1ª turma do MOVA-Brasil – curso de alfabetização – do acampamento Novo Paraíso, 17 pessoas se alfabetizaram. Transbordando alegria foram abraçados e assumiram o compromisso de continuar estudando. “Eu não sabia que era tão importante aprender a ler e a escrever. Eu pensava que não conseguiria mais aprender. Estou muito feliz e assumo o compromisso de continuar estudando para escrever bem nossa vida”, disse uma senhora com mais de 50 anos de idade.
O MST luta em Minas Gerais há 24 anos, organizado em sete grandes regiões: Triângulo, Sul, Leste, Norte, Zona da Mata, Metropolitana e Vale do Jequitinhonha. Já conquistou 42 assentamentos e tem hoje 39 acampamentos em 39 latifúndios que não cumprem sua função social. Entre assentadas e acampadas, cerca de 7 mil famílias Sem Terra integram o MST nas Minas e nos Gerais.
Em fevereiro, realizou-se o 23º Encontro Estadual do MST/MG no Assentamento 1º do Sul, em Campo do Meio, no Sul de Minas, onde 50 famílias hoje assentadas elevaram o nível de vida. E apóiam mais de 400 famílias sem-terra que estão acampadas no latifúndio da ex-Usina Ariadnópolis – palco de um dos maiores conflitos fundiários do país -, uma propriedade rural, com mais de 6 mil hectares, abandonada desde 1992 e ocupada desde 1997 pelo MST e outros movimentos do campo. Despejado vários vezes, o MST não abre mão da Ariadnópolis. A luta lá cresce a cada dia.

O MST em Minas, em 2011, fez 11 ocupações de fazendas improdutivas. Ocupou o Incra duas vezes. Além de muitas manifestações, do Grito dos Excluídos, houve também o 4º Encontro Mineiro dos Sem Terrinha, que reuniu em Belo Horizonte, durante quatro dias, mais de 400 crianças do MST.
“Quanta sabedoria. Nunca vi algo igual! Nossa luta tem um futuro promissor”, revelou uma apoiadora após visitar o Encontro dos Sem Terrinha. Demonstrando muita organização, os 400 Sem Terrinha visitaram e abraçaram a Comunidade Dandara, dia 15 de outubro. “Que lição nos deu os Sem Terrinhas do MST”, dizem muitos na Dandara. No final do encontro, foram até à Cidade Administrativa encontrar o governador. Foram recebidos pelo secretário da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (SEDESE), a quem entregaram uma pauta de reivindicações quentes.

O MST apoiou e participou ativamente da greve dos professores da Rede Estadual (112 dias de greve), da luta dos policiais civis, dos servidores da saúde, dos eletricitários do Sindieletro, da Ocupação Zilah Spósito-Helena Greco e sempre apoiando também a luta das famílias da Comunidade Dandara.

Quase no apagar das luzes de 2011, após seis anos sem receber do governo federal nenhum pedaço de terra, como fruto de muita luta e pressão, a presidenta Dilma assinou decretos desapropriando cinco fazendas para o MST em Minas: Fazenda Fortaleza de Sant’Ana, em Goianá, na Zona da Mata, duas fazendas no Vale do Rio Doce;  uma em Teófilo Otoni e uma no Triângulo.
Conquistou também investimentos no valor de R$ 40 milhões de reais (em convênio entre o governo federal – com 90% - e o governo do estado de Minas – com 10%) para viabilizar a desapropriação e o pagamento de quatro fazendas, todas áreas emblemáticas, palco de grandes conflitos agrários. São as Fazendas Correntes (em Jequitaí), Ariadnópolis (em Campo do Meio), Eldorado (no município de Frei Inocêncio) e a Fazenda Gravatá, em Novo Cruzeiro.
Durante o 3º Encontro Mineiro dos Movimentos Sociais – construído por 96 organizações do Campo e da Cidade - a coordenação do MST foi recebida pelo governador Antônio Anastasia (PSDB), que assumiu alguns compromissos com o MST.
Uma agenda com uma extensa pauta de reivindicações foi estabelecida. Até agora foram cumpridos os seguintes compromissos: a) compra de máquinas para a Ruralminas arrumar estradas de acesso a assentamentos; b) assinatura de decreto ambiental considerando assentamentos como áreas de interesse social, o que permite mais agilidade no encaminhamento dos projetos de plantio; c) celebração de um convênio com o governo federal que permite desapropriar, pagar quatro fazendas e assentar as famílias que já as ocupam.
Três fatores combinados permearam e garantiram as lutas do MST em Minas em 2011: a) a resistência das famílias nos latifúndios ocupados, debaixo da lona preta, sob sol escaldante, muitas vezes sob ameaça de jagunços; b) a unidade do Movimento em todo o Estado; c) a combinação das lutas específicas do Movimento com a unificação da luta com vários outros movimentos sociais populares e muitos sindicatos de trabalhadores.
Em tempos de retrocesso da Reforma Agrária, de avanço do agronegócio – do capital – conforme analisado com precisão e lucidez pela CPT do Nordeste no texto “Balanço da reforma agrária em 2011 feito pela CPT”, em Minas, reforça a convicção de que só perde quem não luta ou desiste da luta. Lutar vale a pena, é muito bom e necessário. Para os pobres, no Brasil, lutar coletivamente, de forma organizada, tornou-se questão de sobrevivência.

Em 2012, o MST em Minas, fortalecendo a Via Campesina, seguirá lutando pela construção de um Projeto Popular Democrático para as Minas e para os Gerais e terá como desafios: a) democratizar a terra em Minas; b) desenvolver os assentamentos já conquistados com agroecologia, educação no/do campo, saúde, cooperação, solidariedade...

A família MST, em Minas, leva no coração eterna gratidão a todos os movimentos populares, sindicatos, igrejas, pastorais, CEBs e pessoas de boa vontade que não mediram esforços para apoiar a causa da reforma agrária, que é uma causa de todos e uma condição para se efetivar a paz, a justiça social e a pátria livre que queremos.


Nenhum comentário: