terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A direita perdida e as manipulações de Kátia Abreu em torno da "Classe C"




Por Igor Felippe Santos*
Editor da Página do MST


O jornal O Globo publicou artigo intitulado “Orfandade da classe média”, assinado pela senadora Kátia Abreu, neste sábado (7/1), apresentando resultados de uma pesquisa coordenada por Antonio Lavareda sobre a chamada a Classe C.

A pesquisa aponta que os 100 milhões de trabalhadores desse segmento exigem mais empregos, redução de impostos (redução para quem?) e manutenção da estabilidade econômica (estabilidade para os trabalhadores ou para os bancos?), saúde, segurança e educação. 74% dos pesquisados são pelo aumento das oportunidades de emprego, em vez de ampliação dos programas sociais.

Os assessores que escrevem o artigo para a senadora seguem a cartilha estruturalista, de chamar de classe média uma categoria de trabalhadores brasileiros que ganham entre R$1.200 e R$5.200 mensais. A maioria deles está no setor de serviços e são  autônomos, mas também estão no operariado industrial melhor pago.

É sintomático que a CNA use dinheiro de seus associados e faça uma pesquisa (bem cara, inclusive) para saber a opinião de um segmento da população urbana. Certamente, interessa muito mais aos objetivos partidários da senadora e de seu novo partido de direita, o PSD...

Não é casual também que tenha contratado a empresa de Lavareda, que é um publicitário que participou ativamente de todas as campanhas dos tucanos, na coordenação delas em 98, 2002, 2006 e 2010. Aliás, o governo FHC dava como troca de favores a esses publicitários a conta de vários ministérios, inclusive do Incra e Ministério do Desenvolvimento Agrário, comandados por Raul Jungmann (PPS).

Será que o artigo não foi escrito pelo próprio Lavareda? É tanta a saudade do Plano Real, que concentrou a renda, desvalorizou os salários e gerou desemprego no nosso país...

Se existe uma nova classe trabalhadora que aumentou seus rendimentos (e que a classe dominante quer conquistar ideologicamente para o campo conservador da “classe média”) é por conta das políticas de geração de emprego, valorização do salário mínimo e fortalecimento do mundo do trabalho do governo Lula, que não tem nada a ver com Plano Real.

É significativo que esses trabalhadores achem que toda propriedade deve ser respeitada, mas admitam que é necessário fazer a Reforma Agrária. E por que não distribuir a propriedade da terra, das fábricas e do comércio para todos (como dizia o grande Leonel Brizola) já que defendem tanto o direito de propriedade?

De acordo com a pesquisa, esses trabalhadores exigem um Estado que garanta saúde, educação e segurança. Daí a ilustre senadora conclui que é esse o programa é social-liberal. Ou é ignorância ou uma oportuna manipulação.

O que o povo brasileiro defende é o programa de um Estado de Bem Estar Social, que só governos de esquerda aplicaram no mundo – e que os de direita, alinhados a Kátia Abreu, destruíram.

Foram justamente as forças políticas que sustentam a senadora, sob a direção da Privataria Tucana, que privatizaram o Estado brasileiro - inclusive os instrumentos de segurança da população. uma vez que no estado de São Paulo há 600 mil guardas de empresas privadas e apenas 300 mil membros das polícias militar e civil.

A direita está perdida politicamente, sem programa partidário e sem uma base social e intelectual consolidada, andando às escuras à procura de bandeiras para acenar para esse setor da classe trabalhadora, que está desorganizado fora dos sindicatos e dos partidos.Pelas pretensões do artigo, para piorar a situação deles, parece que a direita está sob direção do setor mais atrasado do país, o latifúndio representado por Kátia Abreu.
 

* Igor Felippe Santos é jornalista, editor da Página do MST, do conselho político do jornal Brasil de Fato e do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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