A rebelião dos 20 mil trabalhadores na construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, é gravíssima e merece todo apoio e atenção do governo federal. O empreendimento está sendo tocado por um consórcio liderado pela construtora Camargo Corrêa e encontra-se paralisado deste a semana passada, após o levante contra as péssimas condições de trabalho a que estavam submetidos esses trabalhadores.
O problema começou semana passada, quando 8 mil trabalhadores rebelaram-se e incendiaram 60 ônibus e os alojamentos em Jirau (RO). A construtora afirmou que se tratava de um problema de salários que seria resolvido. Não foi. Chamada, a Polícia Militar não conseguiu conter o movimento e uma solução parcial foi levar milhares de trabalhadores para Porto Velho, para novos alojamentos da empreiteira, que também não agradaram os barragistas.
Os protestos continuaram em Jirau (e em Porto Velho) e alastraram-se até o canteiro de obras da Usina Santo Antônio. O resultado foi uma rebelião de dimensões gigantescas: cerca de 20 mil operários estão paralisados e as duas obras também. Muito além do que lamentar pela paralisação das obras tão importantes para o país, temos que agir contra essa realidade inadimissível que se coloca relativa às condições de trabalho a que estavam submetidos estes trabalhadores.
Superexploração, falta de segurança e ameaças
Segundo nota do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), havia "informações de que os mais de 15 mil operários da obra estavam em situação de superexploração, com salários extremamente baixos, longas jornadas e péssimas condições de trabalho". O MAB também alerta para ausência de atendimento adequado de saúde, a péssima qualidade no transporte, além da "falta de segurança e que mais de 4.500 operários estão ameaçados de demissão".
Felizmente, o Ministério Público do Trabalho obteve liminar na Justiça para forçar o consórcio a atender uma série de reivindicações dos trabalhadores. O fato é que os recentes acontecimentos em Jirau alastraram-se às obras da usina de Santo Antônio também paralisada. O episódio revela que neste setor de construção de obras de infraestrutura e, em particular de barragens, o que vemos são relações trabalhistas dos tempos feudais. Absurdas no Brasil de hoje.
Uma saída que vejo é a formação de uma mesa tripartite governo-empreiteiras-trabalhadores, a exemplo da que foi montada contra o trabalho escravo na agroindústria, e que se firme também no setor de construção de infraestrutura, um pacto que impeça essas condições de trabalhos desumanas. O que não podemos é tolerar episódios como este.
Foto: site MAB
Blog do Zé
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