O acordo que resultou na definição do nome do deputado e presidente do PT-PB, Rodrigo Soares, como o candidato a vice-governador na chapa do PMDB revela, antes de tudo, o bom jogador que é José Maranhão. Se tudo caminhasse para uma definição sem a tensão gerada nos últimos dias por ele próprio ao "indicar" o nome de Vital do Rego Filho ele não teria conseguido três coisas:
Primeiro, a repercussão que teve o anúncio, feito na abertura do encontro petista pelo próprio presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, o que foi antecedido por uma reunião entre Maranhão e dirigentes do PT que, ao que parece, não foi difícil já que ainda cedo todos os participantes chegaram sorridentes ao Hotel Caiçara, revelando que para Maranhão, que discursou efusivamente após Dutra, a indicação de Rodrigo Soares não tinha sido um sapo que ele deveria engolir. Toda imprensa estava lá para registrar o anúncio da decisão;
Segundo, José Maranhão não ia entregar a vice ao PT sem um compromisso mais claro da direção nacional do partido em relação ao palanque da candidata a presidente de Lula, Dilma Rousseff, na Paraíba. Como uma minoria cada vez menos expressiva continuava defendendo não apenas que o PT, mas também que Rousseff tivesse dois palanques no estado, Maranhão cuidou logo de cortar as asas de Ricardo Coutinho nesse ponto.
Com a chancela do presidente nacional do PT, que não viria à Paraíba caso o problema da indicação da vice não tivesse sido criado, segundo suas próprias palavras no discurso que fez durante o encontro, Maranhão assegurou que Dilma Rousseff virá à Paraíba para pedir votos apenas em cima do seu palanque. Ricardo Coutinho que se contente com Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, num palanque sem presidenciável. Ou então, que peça votos para José Serra, loucura que ele não vai fazer.
Ou seja, Ricardo Coutinho vai ficando cada vez mais acuado e isolado à direita, o que inviabiliza seu discurso de renovação. Enquanto isso, Maranhão vai conseguindo senão unir, mas construir uma amplíssima maioria dentro do PT em seu favor, além de isolar e neutralizar a minoria petista que ameaçava se rebelar. Agora, nenhum petista ousará subir no palanque do PSB.
Terceiro, com o acordo José Maranhão negociou com clareza o papel de Veneziano Vital na eleição. Diante do "prejuízo" de não ter nenhum campinense na chapa, Maranhão assegurou que a campanha na Rainha da Borborema tenha Veneziano como o principal protagonista, não se justificando a partir de agora, por exemplo, o discurso de que uma expressiva derrota, se acontecer – que é tudo que Maranhão deseja evitar, – será por conta do bairrismo campinense.
Se o candidato a governador peemedebista perder por pouco em Campina Grande terá atingido o objetivo eleitoral; se vencer, Veneziano terá reafirmado sua força na cidade; se vencer por muito (20 mil votos, digamos) tornaria a futura candidatura a governador do atual prefeito de Campina Grande em 2014 um fato consumado. E se Maranhão olhar apenas para sua reeleição, esse discurso – o de que Veneziano Vital será seu candidato a governado caso vença em Campina – tenderá a ser um poderoso atrativo para convencer os eleitorado campinense.
Portanto, longe de sair fragilizado por não ter conseguido "impor" sua vontade na definição da chapa majoritária, José Maranhão soube reverter a pressão dos aliados em seu favor. Diante da reação da direção do PT e de Veneziano Vital ao "anúncio" de uma chapa com Vital Filho na vice, Maranhão conseguiu fechar os detalhes que realmente importavam para colocar sua estratégia eleitoral em ação.
Como bom jogador, não pagou para ver diante dos riscos envolvidos. "Jogou verde" para tentar criar o fato consumado, mas sabia desde o início onde ele podia chegar. Sem dúvida que ele achava que o melhor para sua chapa era ter um vice de Campina, mas sabia das dificuldades e soube jogar com elas. E acabou atingindo seus objetivos na negociação.
Ressalte-se nesse episódio a firmeza da direção do PT. Desde Josenilton Feitosa, o secretário do PT, que, como sempre, foi corajoso ao se expor para expor o que o PT pensava a cada ataque que recebia, a Rodrigo Soares, que soube se movimentar com tranqüilidade num campo minado, foi firme quando teve que ser firme, e paciente para não se expor na hora errada.
Soube esperar e resistiu à tensão, coisa que, por exemplo, Luciano Cartaxo não conseguiu. Na hora H, Cartaxo tremeu nas bases e não agüentou a pressão. Fez o correto, pois viabilizou a superação de um aparente impasse. Mas mostrou não estar à altura da posição que ocupa, tanto no PT quanto na sociedade. Seguidamente, cometeu todos os erros que alguém em sua posição e com seus objetivos não poderia cometer.
Rodrigo Soares, por outro lado, teve tranqüilidade porque tinha clareza desde o início do que queria, que era se eleger deputado federal. Depois disso, o que caísse na rede seria peixe. Ninguém pode acusá-lo de deslealdade nem de oportunismo. Ainda consolidando sua posição como liderança interna do PT, Soares sabia de suas limitações nesse campo. Soube, por isso e antes de qualquer coisa, unir o PT em torno dele. E de quebra ainda pode dizer, sem que isso soe como uma insinceridade, que abandonou seu projeto pessoal para abraçar um projeto partidário, uma alfinetada em quem não foi capaz de fazer isso (quem?).
As portas da grande política estão abertas para Rodrigo Soares. E ele vai adentrá-las. Com O Príncipe, de Maquiavel, como livro de cabeceira (quem me conhece, sabe que isso é um elogio) e com um jovem professor que ainda tem cara de menino como principal conselheiro. Como me disse ontem por telefone outro importante assessor de outro grande político paraibano: "Esse rapaz vai longe".
Por Prof. Flávio Lúcio
PENSAMENTOS MÚLTIPLOS