terça-feira, 6 de abril de 2010

A revista The Economist critica Dilma pelo que ela tem de melhor


Em sua última edição a revista inglesa The Economist publicou um artigo em tom editorial sob o título “Namorando novamente com o Estado” (Falling in Love again with the state) a respeito das eleições presidenciais deste ano.

O sub-título pergunta se este movimento é apenas retórica ou se o governo “ está aprendendo as lições erradas da recuperação econômica do país depois da crise econômica e financeira mundial”.
No desenho que ilustra o texto aparece um caixão fúnebre sendo aberto por pessoas vestidas de vermelho, enquanto uma figura de terno azul com um cabeção simbolizando as empresas estatais volta a viver como que ressuscitado de um longo período de inação. O texto reconhece que o breve período recessivo de 2009 foi apenas um hiato para um salto no trampolim. Diz o texto: “A economia brasileira está crescendo: no último trimestre do ano passado o PIB teve um incremento de 2% em relação ao trimestre anterior e as perspectivas para o crescimento anual são em torno de 6%”.

Segundo a revista, a proximidade das eleições de outubro talvez provoquem este clima de auto-bajulações e o fato de a economia brasileira ter tido capacidade de resistir às consequências da crise mundial, acabou por fortalecer a concepção da importância do Estado.

A opinião dos editores da Economist estão lastreadas em declarações feitas pela pré-candidata Dilma Rousseff a um livro recém publicado em comemoração aos 30 anos do Partido dos Trabalhadores, quando afirma: “Durante a crise, depois da falência do Lehman Brothers, foram as instituições financeiras (controladas pelo Estado) como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que impediram que a economia afundasse.”

Além do mais, na entrevista, Dilma destacou que o governo promoveu “uma clara política de fortalecimento da Petrobras”, a gigante estatal de energia, segundo a matéria da revista. Em outras palavras, diz a Economist, o capitalismo de estado brasileiro foi um sucesso onde o setor privado fracassou.

A base de sua argumentação não foge muito à regra da imprensa local: o sucesso corrente da economia brasileira nada tem a ver — conforme citação de Dilma à revista, com o fortalecimento do Estado, dos bancos públicos e da Petrobras — e sim na opção de continuidade à política monetária encetada por Lula em 2003.

Na verdade, falta criatividade aos editores da revista em descrever em que ponto exato essa orientação em matéria de política monetária fez bem ao Brasil.

A ideologia ultraliberal os cega a ponto de citar o interesse de Lula em reviver a Telebrás de forma depreciativa, ao mesmo tempo em que reconhecem a incapacidade do setor privado em levar “banda larga” aos rincões mais inóspitos do país.

Mais contradições na defesa do sistema privado bancário: um leitor mais atento pode se perguntar diante de tantos elogios ao “sólido sistema financeiro privado brasileiro”, qual o porquê destas instituições não terem jogado um papel ativo na crise. Não somente isso: qual o verdadeiro papel destes bancos no conjunto da economia nacional?
Sob outra ótica, interessante – mais contraditória ainda – é a própria denúncia que fazem do crescente estatismo de Lula e aprofundado por Dilma.

Pois bem, em economia as coisas se medem pela capacidade de determinado “modelo” ou “orientação” dotar o país de maiores ou menores taxas de crescimento do PIB. O salto de crescimento com relação ao governo FHC ocorreu quando justamente Lula inaugurou o PAC, jogou o peso financeiro da Petrobras e da Eletrobrás em prol do crescimento e os bancos públicos assumiram seu papel de indutor de crédito ao crescimento.

Como e com quais argumentos enfrentar essa verdade?
A única forma é pela tergiversação da discussão. E foi exatamente esse o problema da The Economist em sua última edição. Faltaram argumentos, sobrou ideologia.


Blog do Renato

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