Tem muita gente reclamando da CPI do Cachoeira não entrar direto de sola na velha imprensa. Mas convenhamos que não seria inteligente, nem produtivo.
Seria apenas prato cheio para a oposição criar confusão e "melar" a CPI (o que estão tentando fazer), igual aconteceu quando o então senador tucano Antero Paes de Barros (MT) encerrou a CPI do Banestado sem concluí-la, e o PT naquela época não teve habilidade (ou não teve maioria), para conduzir a comissão até seu desfecho final.
Até agora o gesto do relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT/MG), está perfeito. Só aprovou os requerimentos pedindo acesso compartilhado aos inquéritos das Operações Monte Carlo e Vegas.
A partir desse material é que se terá acesso, por exemplo, aos 200 telefonemas de Policarpo Júnior com Carlinhos Cachoeira, e sabe-se lá mais o quê. Uma análise destes telefonemas é que dará ideia do tamanho da encrenca em que a velha imprensa se meteu com a quadrilha de Cachoeira, e do encaminhamento a ser dado.
Sem isso, podemos tirar nossas conclusões, mas não passarão de suspeitas sem provas.
De nada adianta convocar Policarpo, Civita e outros para depor, sem fazer um bom trabalho prévio de "garimpagem" de informações.
Na CPI eles só dirão o que lhes interessam, ou recorrerão ao direito de se silenciarem. Nos autos da operação, acreditando estar imunes a grampos, com certeza há conversas tão inconfessáveis que a revista Veja não publicou nenhum deles.
De posse do que eles conversaram e do que fizeram, os depoimentos tornam-se mais produtivos, pois os parlamentares podem fazer as perguntas certas e, digamos, fatais.
Apesar da tentação em fazer revistas como a Veja provar do próprio veneno, seria pensar pequeno se as forças governistas se limitassem a isso. Os compromissos dos partidos da esquerda progressista não é o mesmo da oposição demotucana, que só pensa em destruição dos adversários para chegar ao poder.
O compromisso maior da esquerda progressista é construir uma nação com instituições democráticas mais honestas, com democratização da informação, com eleições limpas, onde governos continuem representando a vontade do povo, e não a vontade dos donos da imprensa, do poder econômico e das máfias.
A grande virtude da CPI no capítulo da mídia, será exumar a corrupção que existe na imprensa, através da promiscuidade da troca de favores econômicos (diretos ou indiretos) entre vendedores de notícias com fins lucrativos, oligarquias políticas, grupos econômicas e máfias.
Quanto mais factual for essa exumação e quanto menos "comícios" dentro da CPI, mais eficiente será. Lembrem-se que o importante não é saciar a nós mesmos com mais evidências de que Globo, Veja, Folha e Estadão formam um partido da imprensa corrupta e golpista, sem escrúpulos. O importante é provar aos outros incautos que não acreditam nisto, mostrando que é fato irrefutável.
Outro grande tento que a CPI deve buscar é esclarecer aos que ainda não caíram a ficha, que político, para defender o cidadão, não pode ser eleito financiado e devendo favor a banqueiros, empreiteiras e mafiosos.
Em tempo: a objetividade racional e séria dentro dos trabalhos da CPI não impede discursos fora dela, no plenário da Câmara ou do Senado, de opinião e de embate político, sejam inflamados ou não.
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