quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Do sangue da Margarida nasceram as flores de luta


"E eu só deixo de dizer quando eu morrer"
Margarida Maria Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983


Do luto à luta. O tiro de espingarda foi mais poderoso do que a espada da deusa com os olhos vendados, que diz usar a força em prol do justo. A violência da autoridade privada venceu o grito sufocado de uma camponesa que lutava por direitos (dos outros). Atiraram em Margarida, mas o sangue derramado não matou a luta; fertilizou a consciência, fez pesar a indignação, mostrou, de forma escancarada, uma realidade degradante que precisa ser combatida, um sonho que precisa ser sonhado junto para virar realidade. E a Margarida espalhou suas sementes. Morreu flor e fez nascer um jardim. Morreu na luta mas não morreu de fome. E nos fez passar fome - de Justiça.

Margarida Maria Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983, na cidade de Alagoa Grande/PB, é um dos maiores símbolos da luta pelo direito humano à terra. Ao mesmo tempo, sua história desnuda, sem pudor, as relações viscerais e embaraçosas entre o poder econômico dos grandes proprietários e as estruturas políticas e institucionais do estado, que foram determinantes para cravar uma cicatriz profunda de impunidade. O mandante de seu assassinato, só julgado em 2001, continua solto, como se inocente fosse. E o conflito fundiário na falida Usina Tanques, de onde partiu a ordem sangrenta, continua existindo.

Defensora de direitos humanos, sindicalista, camponesa, mulher. Nem tudo são flores, é verdade. O sangue não deixou de jorrar, o jardim ainda é pisoteado, mas as flores também falam, gritam e marcham. E, juntas, resgatam o passado e alertam para o presente; um presente tão violento quanto aquela sexta-feira de 1983. Um sonho de dignidade que, nas lutas sociais, será sempre o resgate da memória de trabalhadores covardemente assassinados por terem a coragem de insurgir contra a miséria e exploração de seu povo.

Abaixo, reproduzimos um trecho do documentário "Uma questão de terra" (1988), dirigido por Manfredo Caldas, que trata do assassinato de Margarida, inclusive com uma fala sua, já se referindo às ameaças que vinha sofrendo:


Sonho que se sonha só/É só um sonho que se sonha só/Mas sonho que se sonha junto é realidade
"Prelúdio", de Raul Seixas
Fonte - www.jornalamargem.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Recorrer à justiça e a meios legais pra azer valer a própria constituição é inútil. O poder está nas mãos de quem está no poder. O povo só teria vez e voz e faria valer sua causa numa verdadeira guerra civil, com as cabeças dos "Grandes" espetadas em varas nas praças das cidades onde "imperam" tratando o povo como se fosse seu gado. Essa é minha opinião, pois para grandes males, grandes remédios.