Que saudades que a elite branca tem do distinto e culto Campos Salles...
por André Gustavo de Paula Eduardo
Os offs são mesmo um perigo, Boris Casoy que o diga. Podem eles desarmar qualquer padrão de comportamento supostamente “civilizado” e desmascarar todo um modus e uma rotina de pensamento.
Foi assim no vídeo que está circulando pela web, no qual Boris ofende verbalmente dois garis que aparecem em vinheta da Bandeirantes para desejar um feliz ano novo. “Do alto de suas vassouras”... “a escala mais baixa do trabalho”. Seu juízo diz muito acerca do modo de pensar de boa parte do jornalismo brasileiro, de vocação golpista e reacionária, enlatada em meia dúzia de famiglias e cujo preconceito de classe é amiúde o mote e sua razão de existência.
Ocorre que o caso de Boris não foi isolado. Graças a recursos como o Youtube, o Twitter e a explosão da blogosfera, as gafes desse padrão se multiplicam, deixando claro que comentários covardes e boçais como o do âncora “bandoleiro” são coisa corriqueira, e só agora há mecanismos para visualiza-los e entende-los.
Exemplo recente foi a histrionice da apresentadora e “atriz” Xuxa, avisando os twitteiros que não tinham pedigree para conversar com sua filha (aquela que tem nome de homem, a Sasha, ou Alexander na Rússia). Sasha cometera um erro ortográfico, pegaram no pé da guria e Xuxa bem justificou avisando que fora ela “educada em inglês”.
Outro caso, certamente mais perigoso e revelador, foi o do comentário indiscutivelmente racista de Danilo Gentili, um dos apresentadores do CQC, outro programa da Bandeirantes.
No caso, é de se notar que seu racismo, ainda que com a desculpa da “piada”, é plenamente consonante com sua atitude enquanto repórter / humorista do programa de Marcelo Tas. Gentili já humilhou uma senhora pobre que havia “furtado” seu celular, num contexto em que ela aparecia como a “típica brasileira, malandra e picareta”, além dos esteriótipos atribuídos a gente pobre.
O CQC é o flerte constante com a escória e falta de escrúpulos, quase desnuda, não fosse seu baby doll de “inteligência” que permeia o programa e adviria da suposta credibilidade do mentor Marcelo Tas. CQC é política do começo ao fim, e política com propósito definidos.
Para quem acompanhou o programa em 2009 cansou de ver acintes à ministra Dilma Rousseff, frequentemente irritada com vacuidades a fim de promover cenas de destempero que os Gentili e cia. tanto almejam. Não conseguiram, mas pintaram Dilma como “sisuda”, “antipática”, “fugaz”.
Sim, o Serra também é “alvo” dos moleques da trupe. Mas com visível diferença de tratamento, visto que é um nome mais conhecido em âmbito nacional (o que não significa reflexo em votos) e a ele são reservadas brincadeiras que não o arranham. A questão é: o Serra pode parecer antipático, pra ele é status. Pra Dilma, é só uma forma de corrupção de sua imagem. Por que não fazer?
A imprensa brasileira há muito patina com exemplos os mais hediondos, de autoritarismo e malandragem, sobretudo com processos de radicalização ocorridos após as vitórias seguidas do presidente Lula. O preconceito de classe ainda grassa alto, motivando grupelhos de extrema-direita (como o Cansei) e até posturas mais radicais e assumidamente golpistas encontradas na revista Veja ou na Folha de S. Paulo.
Esse casamento imprensa / direita coincide, aliás, com as crises econômicas enfrentadas pelos grandes jornais, cada vez mais fechados num nicho conservador, paulicêntrico, com o mesmo discurso do medo que se mostra enferrujado – embora ainda vivo.
A Veja, última flor do fascismo, a revista “Boimate”, pregou abertamente o hino golpista contra Lula, publicou a existência de contas falsas, repetiu factóides por ela criados e atacou sistematicamente todos os programas do governo. A Veja, reduzida a um público de classe média e média-alta, cada vez mais se centra em seu nicho e radicaliza o discurso do preconceito e do medo.
A Folha tentou em editorial reescrever nossa história recente com a tese da “ditabranda”; publicou ficha criminal falsa de Dilma, acusando-a, fora de contexto, de ter planejado seqüestrar Delfim Netto (!!). Acasalou com o sórdido ao publicar fofocas de um ex-militante petista que insinuou que Lula “subjugava um menino” nos tempos de sua prisão – episódio definido por Nassif como a maior gafe do jornal desde o escândalo da Escola Base.
Estamos em 2010 e o ano promete muitas batalhas. O jogo sujo da imprensa de esgoto e os apelos do preconceito de classe voltaram – nunca se foram – ainda que tucanos, demos e cia. saibam do equívoco político que é desprezar o eleitorado amplamente contemplado pelas políticas do PT.
Episódios como os descritos acima bem demonstram um contexto de polarização – e sabemos que o preconceito de classe bem se coaduna com a tradição tucana, seu modus operandi supostamente “iluminista”, incapaz de maior percepção da complexidade brasileira, de estados tão complexos, de diversos segmentos marginalizados e com um contexto de pobreza urbana avassalador.
Talvez um bom conselho político aos tucanos seja “se vocês querem algum voto do povo, terão de mandar seus porta-vozes da mídia calarem a boca”. O discurso do medo e do preconceito estão ultrapassados – os Caetanos, Boris Casoy, Regina Duarte, Diogo Mainardi e Marcelo Tas terão de procurar subterfúgios e sofismas outros se o intuito for eleger José “Nosferatu” Serra. A ver – a batalha já começou.
Fonte: olhosdosertão
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